tag:blogger.com,1999:blog-22996846369066632302024-02-20T05:36:36.981-08:00End of Time.hhttp://www.blogger.com/profile/16690886416234015654noreply@blogger.comBlogger90125tag:blogger.com,1999:blog-2299684636906663230.post-43496647665116522922024-01-18T08:51:00.000-08:002024-01-18T08:51:05.061-08:00Órbita<p> À paz do cosmos</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">gira gravidade<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal">Ao silêncio da poeira<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">irradiada<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">presto uma reverência<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal">Vibram esferas<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">dentro de uma noite<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">interminável<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal">Se deixar<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">não faço mais nada<o:p></o:p></p>.hhttp://www.blogger.com/profile/16690886416234015654noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2299684636906663230.post-67142907323873473732023-12-22T03:17:00.000-08:002023-12-22T03:17:43.480-08:00círculo<p> Todo cigarro é o último</p><p>Até comprar mais um</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal">Drago do fundo<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Soprpo remorso<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Reviro estômago<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Exponho os bofe<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal">Mas vem a raiva<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A
falta<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Tristeza e saudade<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Que sufoca a boca<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Embaça a vista<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Que nem fumaça<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Põe as cigarras<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Em pranto<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal">Uma lambança<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Chuva, lama, furacão<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">E cai o relâmpago:<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Clarão e estala o chicote<o:p></o:p></p>.hhttp://www.blogger.com/profile/16690886416234015654noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2299684636906663230.post-64766073766635024082023-12-09T14:33:00.000-08:002023-12-09T14:33:05.011-08:00Retorno<p> Na força</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">A roda não gira<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Empena<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal">No soco a vida<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Não muda<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal">Desapega<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">E releva<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Parte pruma outra<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Refrega<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal">Aos murros<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">A vida não muda<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">O giro<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Circunda o mesmo<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">ponto<o:p></o:p></p>.hhttp://www.blogger.com/profile/16690886416234015654noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2299684636906663230.post-58171215052932132662023-10-18T02:04:00.003-07:002024-02-08T06:02:41.881-08:00crônica de buteco<p> <span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt; text-align: justify;">Aconteceu a mais de uma década.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt;">Eu voltava do trabalho por volta das cinco da tarde de
uma segunda ou terça feira. Pra escapar da fadiga, do engarrafamento e do
transporte lotado parei para uma hora no meu bar do centro favorito. Sentei
sozinho, enchi um copo e saquei Sancho Pança (como chamo um bloco de notas que
sempre carrego comigo). <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt;">É meu ritual frequente: ouvir o rugir dos motores,
sentindo a confluência de gente cortando as calçadas e divagar no papel como
quem finge que não quer nada, mas espera encontrar algum tesouro enterrado no
fundo da mente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt;">O dono do bar era uma figura característica: avental
branco, flanela de limpar dependurada no ombro, barriga rotunda,
calvo, brancos bigodes de morsa. Eu conhecia o sujeito das minhas idas e vindas
e do que (para mim) parecia ser sua constante presença ali. Trabalhava no bar
de domingo a domingo desde antes de eu ter idade pra beber. Tinha a mesma
aparência desde a primeira vez que pus os pés no segundo andar do edifício
Maletta por volta dos meus dezoito anos. Ele também me conhecia de vista,
cumprimentava quando eu entrava, mas não sei se sabia meu nome.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt;">Nesse dia havia algo de diferente nele porque parou
ao lado da minha mesa. Senti que queria puxar papo – coisa que acontecia de vez
em quando pra comentar de futebol ou alguma amenidade. Quando olhei no seu
rosto havia um sorriso que eu não interpretei de imediato, mas que depois
interpretei como uma tristeza agridoce. Não sei por que me contou o que contou
nem se era seu costume falar daquelas coisas com os clientes, mas acho que ele
reconheceu em mim alguma saudade mal guardada.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt;">“Faz mais de trinta anos que não vejo o amor da
minha vida” ele começou. “Sou casado e ela também. Nossas cerimônias
aconteceram no mesmo dia, acredita?”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt;">Eu tentava não arregalar os olhos de surpresa.
Perguntei alguma coisa que o fizesse continuar a história.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt;">“Quando nos casamos, cada um com sua metade, paramos
de nos falar. Depois eu me mudei para Belo Horizonte e uns cinco anos depois
ela e o marido foram para o Nordeste. Hoje é aniversário dela e eu me lembro desta
data todos os anos.”<br />
<br />
Eu devo ter conversado de volta.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt;">“Eu me lembro dela todos os anos” ele repetiu. “será
que ela também pensa em mim?” Foi aí que reconheci o sorriso: misto de
vergonha, orgulho, saudade, felicidade e tristeza. Perguntei o nome dela e ele
me contou. Falou que amava muito a esposa, mas que também amava a outra.
Perguntou (mais pra si mesmo do que pra mim) o que teria sido da vida dele se
tivessem se casado um com o outro. Teriam sido felizes? Teriam se amado, tido
filhos? Eu não soube o que dizer.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Courier New"; font-size: 12pt;">Depois voltou ao serviço e me deixou ali com a
caneta na mão. Será que eu escreveria sobre ele? Naquele dia não. Foram muitos
anos destilando nossa conversa, aquele momento único de intimidade entre nós.<o:p></o:p></span></p>.hhttp://www.blogger.com/profile/16690886416234015654noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2299684636906663230.post-91473882703338749072022-12-23T13:05:00.001-08:002023-03-14T12:03:11.902-07:00Sujeito & Predicado<span face="Arial, sans-serif">afia a foice</span><div><span face="Arial, sans-serif">a fina linha</span></div><div><span face="Arial, sans-serif"><br /></span></div><div><span face="Arial, sans-serif">entre tênue e saudável.</span></div><div><span face="Arial, sans-serif"><br /></span></div><div><span face="Arial, sans-serif">Afim de um coice</span></div><div><span face="Arial, sans-serif">assim do nada</span></div><div><span face="Arial, sans-serif">um fim de merda</span></div><div><span face="Arial, sans-serif"> e pronto</span></div><div><span face="Arial, sans-serif"><br /></span></div><div><span face="Arial, sans-serif">finda linha</span></div><div><span face="Arial, sans-serif">fia a meda</span></div><div><span face="Arial, sans-serif">inteira. Alinha</span></div><div><span face="Arial, sans-serif">rosto, tronco</span></div><div><span face="Arial, sans-serif">e membros. Afina</span></div><div><span face="Arial, sans-serif">boca, ouvido</span></div><div><span face="Arial, sans-serif"> e canto.</span></div><div><span face="Arial, sans-serif"><br /></span></div><div><span face="Arial, sans-serif">A fina linha</span></div><div><span face="Arial, sans-serif">entre morte</span></div><div><span face="Arial, sans-serif">e motorista</span></div><div><span face="Arial, sans-serif">motivo e motim</span></div><div><span face="Arial, sans-serif">Ricardo e Larissa</span></div>.hhttp://www.blogger.com/profile/16690886416234015654noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2299684636906663230.post-37372004092760305872022-08-11T07:03:00.002-07:002022-09-21T06:15:52.727-07:00paradoxo temporal<p>Seis e meia da manhã e falta quinze minutos pra sair. Vou à pé, demoro quatorze minutos pra chegar e chego um minuto adiantado. É assim.</p><p>Seis e quarenta dá aquela vontade de ir ao banheiro. Tenho cinco minutos pra cagar.</p><p>Demorei seis, fiz o trajeto em onze, cheguei dez minutos atrasado.</p>.hhttp://www.blogger.com/profile/16690886416234015654noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2299684636906663230.post-33588033352544249422021-07-01T10:19:00.003-07:002022-01-11T10:26:11.268-08:00<p> O que mais dói é eu tá inteiro.</p><p>Queria estar partido, esmigalhado, fragmentado - mas não, tô inteiro. Completo apesar da falta (DAS faltas), caminhando em linha reta rumo a um amanhecer final. Que pode ser amanhã, daqui a cem anos, oito dias ou nove meses - mas é mais provável que demore a acontecer. Porque cada passo dói, mas acontece, cada expiro leva a uma nova inspiração e assim por diante feito roda gigante que gira e gira mas sempre retorna ao ponto - é partida ou recomeço?</p><p>Quando não sei o que fazer você não está lá - sou só eu mesmo à luz da minha consciência. Que quando paro, perdido, não estou só mas tem alguém comigo que sou eu mesmo. E tu. Porque um ano ou dez ou mais não apaga a trilha bem percorrida nem a memória esmaece o que importa - que foi a gente. É a gente, sentado ali naquela beira de precipício que por fim se mostra ser só mais uma borda enevoada, mas que tem saída. Não sei é de mais nada mas continuo contra vontade própria a acordar todo dia de manhã. Tem volta, mas demora - é um alinhamento entre muitos e a gente vai se esbarrando a cada encruzilhada que importa.</p><p>Continuo a sonhar com a sua volta mas tem passagem que não aceita a mão dupla. É melhor assim. Vou guardar o "se" pra quando for a hora, quando der a volta e a gente se esbarrar mais uma vez. Sinto sua falta (pronto, falei) e não creio que vá deixar de sentir até um novo amanhecer. Não me espera, segue a forma que for, que o carrossel gira e volta - naturalmente. Guardo a sua falta.</p><p>Se for pra ser épico, que seja. Nos surpreenda - o que quer que venha. Se for pra ser vil que seja, mas deixa a seta cruzar o ar pelo caminho que seja melhor. Já ia falar de cerveja - mas você não bebe então deixo que seja como quiser. A gente se encontra na curva, na borda mais próxima, no tempo que vier. Não espera e segue - que eu sigo daqui. Não dá pra reverter o fluxo do rio sem perder o fio da meada.</p><p>Segue que eu sigo e mais tarde a nossa órbita se encontra.</p>.hhttp://www.blogger.com/profile/16690886416234015654noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2299684636906663230.post-91453285236423469072021-04-21T08:19:00.000-07:002021-04-21T08:19:18.560-07:00<p>tem dia</p><p>momento</p><p>hora</p><p>ocasião</p><p>que o peido é poderoso</p>.hhttp://www.blogger.com/profile/16690886416234015654noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2299684636906663230.post-69181607445783750982020-02-12T08:34:00.000-08:002020-02-12T08:34:13.458-08:00é um raio de sol refletido na lua<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Pra preencher mágoas</div>
<div style="text-align: justify;">
de substância; fumaça.</div>
<div style="text-align: justify;">
tira do que é líquido</div>
<div style="text-align: justify;">
põe pra fora o vento</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
pra trazer à vida, a vida</div>
<div style="text-align: justify;">
dá: não adianta guardar.</div>
<div style="text-align: justify;">
Mascara o pérfido sorriso</div>
<div style="text-align: justify;">
e revira o ventre exposto</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
de cima a baixo.</div>
<div style="text-align: justify;">
Uma escada em vertical</div>
<div style="text-align: justify;">
sem referência pra chão</div>
<div style="text-align: justify;">
nem pra céu azul no fim.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sem Ariadne a corda</div>
<div style="text-align: justify;">
é o branco da pedra.</div>
<div style="text-align: justify;">
Ou a ponta da agulha</div>
<div style="text-align: justify;">
ou a trama da pele</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quem guia a bússola?</div>
.hhttp://www.blogger.com/profile/16690886416234015654noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2299684636906663230.post-85881449301515168622018-11-26T08:13:00.000-08:002018-11-26T08:13:02.041-08:00Ser ConjugadoEu só<div>
tu soma</div>
<div>
nós soul</div>
<div>
<br /></div>
<div>
eu somo</div>
<div>
tu soa</div>
<div>
nós som</div>
<div>
<br /></div>
<div>
nus, somamos</div>
<div>
tu samba</div>
<div>
eu, sombra</div>
<div>
<br /></div>
<div>
teu solo</div>
<div>
meu planta</div>
<div>
nosso sonha</div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
.hhttp://www.blogger.com/profile/16690886416234015654noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2299684636906663230.post-89097191926065344802018-10-12T11:59:00.002-07:002018-10-12T11:59:23.315-07:00O morto levantou<br />
tomou um trago,<br />
dividiu um cigarro.<br />
Xingou, trepou.<br />
E foi pro escuro.<br />
Não volta mais..hhttp://www.blogger.com/profile/16690886416234015654noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2299684636906663230.post-49441798013715008092018-09-24T10:34:00.002-07:002021-07-01T12:53:46.412-07:00o mal da humanidade<br />
é ter coração <br />menor que a alma.hhttp://www.blogger.com/profile/16690886416234015654noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2299684636906663230.post-20932781912512734852018-08-12T13:25:00.000-07:002019-02-08T09:07:20.769-08:00Dilui e DissolveTem cura pra tudo.<br />
<br />
Mesmo se é medo<br />
se é culpa, desejo<br />
vergonha, mágoa<br />
que o valha<br />
<br />
levar pra mente,<br />
concentrar, condensar<br />
transformar em tristeza<br />
<br />
e pôr pra fora em beleza.<br />
<br />
Lavar a alma..hhttp://www.blogger.com/profile/16690886416234015654noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2299684636906663230.post-56572474616279417182018-04-29T09:02:00.003-07:002018-04-29T09:33:57.389-07:00Helvegen - Caminho para Morte (tradução livre)Quem irá cantar e me lançar ao sono mortífero?<br />
quando sigo a caminho da morte<br />
e a estrada que trilho é fria, tão fria<br />
<br />
busquei as canções e enviei as canções<br />
quando do mais profundo Poço<br />
recebi lágrimas amargas<br />
pelo penhor do Pai-Morte<br />
<br />
Eu sei, Odin, a quem entregou teu olho<br />
<br />
Quem irá cantar e me lançar ao sono mortífero?<br />
quando sigo a caminho da morte<br />
e a estrada que trilho é fria, tão fria<br />
<br />
seja cedo ou ao fim do dia<br />
o corvo ainda sabe se caio<br />
<br />
Uma vez que se depare<br />
com os portões da morte<br />
e precisa se libertar<br />
<br />
ei de segui-Lo<br />
pela Ponte Retumbante<br />
com minha canção<br />
<br />
Se livra das correntes que o prendem<br />
e é libertado dos laços que o seguram<br />
<br />
Gado morre, parentes morrem<br />
você próprio morrerá<br />
mas algo nunca morrerá<br />
a justa fama que merece<br />
<br />
Sei apenas de um que não morre:<br />
julgamento sobre os que morrem.<br />
<br />
<i>canção e letra original por Wardruna</i>.hhttp://www.blogger.com/profile/16690886416234015654noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2299684636906663230.post-11829953507154853042018-03-20T18:32:00.002-07:002018-03-21T14:42:13.555-07:00Receita de Fossa3 cervejas<br />
4 cigarros<br />
1 par de versos<br />
dois arrotos bem dados.hhttp://www.blogger.com/profile/16690886416234015654noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2299684636906663230.post-52004910448689644232018-03-16T09:24:00.001-07:002018-03-17T06:53:04.579-07:00Encruzilhada<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: justify;">
vai partir no silêncio</div>
</div>
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: justify;">
mas avisa que fico</div>
</div>
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: justify;">
sei ir embora, não tema</div>
</div>
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: justify;">
sou como diamante</div>
</div>
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: justify;">
não quebro fácil</div>
</div>
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: justify;">
de fogo, não queimo</div>
</div>
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: justify;">
Se o pilar não sustenta</div>
</div>
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: justify;">
eu aguento a pena</div>
</div>
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: justify;">
deixa um verso</div>
</div>
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: justify;">
que de resto</div>
</div>
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: justify;">
eu disperso</div>
</div>
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: justify;">
como poeira</div>
</div>
.hhttp://www.blogger.com/profile/16690886416234015654noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2299684636906663230.post-51285808251588466742018-03-12T20:43:00.001-07:002018-03-12T20:43:14.581-07:00GravidadeUm tranco nas tripas<br />
e o nó desata o trilho<br />
O peito destranca e abre<br />
levanta o queixo e chora<br />
<br />
Se o que atrai é a hora,<br />
liga às três sem demora.<br />
Me acorda, faz chover<br />
e vai embora.<br />
<br />
Procurei em cada esquina<br />
Atraí em toda sina<br />
e sem saber da linha fina<br />
disse adeus<br />
<br />
Do que fica, a estrada<br />
um tanto torta,<br />
um cado morta<br />
e o resto estoura.<br />
<br />
Na cara a boca<br />
os dentes, a barba:<br />
não sobra rumor<br />
não falta trovão<br />
<br />
O silêncio lá fora<br />
não reduz à sombra<br />
não traduz a fome<br />
mas remonta o palco<br />
<br />
Chama de volta e corre.hhttp://www.blogger.com/profile/16690886416234015654noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2299684636906663230.post-16390977238452929022017-10-03T07:56:00.002-07:002018-09-24T17:15:48.729-07:00A FundaSe não tivesse nascido<br />
a terra seria um plano<br />
divino em nevoeiro<br />
perdida em devaneio<br />
<br />
estirado ao campo<br />
desacelera o tempo<br />
atira ao vento frio<br />
o fio de meada solta.<br />
<br />
Atravessa as searas<br />
mortas pelo fogo<br />
centelhas vermelhas<br />
avessas ao contato<br />
<br />
vem pra vida escura<br />
serenata em via suja<br />
dum bordel escuso<br />
à praia pra afundar<br />
<br />
nas ondas sumo<br />
de fruto doce<br />
azul belicoso<br />
verde pastoso.<br />
<br />
Pega a espada<br />
velha, oxidada<br />
e vai morrer<br />
na guerra.hhttp://www.blogger.com/profile/16690886416234015654noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2299684636906663230.post-52340410515872708432016-08-25T07:29:00.002-07:002017-07-24T13:11:48.579-07:00Aparte<div class="MsoNormal">
Se poesia em forma</div>
<div class="MsoNormal">
quando a pia entorna</div>
<div class="MsoNormal">
toda lona a cobrir</div>
<div class="MsoNormal">
o chão em lama,</div>
<div class="MsoNormal">
a cama aceita a sina</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Soa o sino </div>
<div class="MsoNormal">
em sono esperto, </div>
<div class="MsoNormal">
peito aberto</div>
<div class="MsoNormal">
no deserto leito</div>
<div class="MsoNormal">
ao feito estrito</div>
<div class="MsoNormal">
da longa noite,</div>
<div class="MsoNormal">
suspira em pira</div>
<div class="MsoNormal">
a partida acima.</div>
<div class="MsoNormal">
Expira a vida.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
De toda cria mundana</div>
<div class="MsoNormal">
espanta as pestanas</div>
<div class="MsoNormal">
dos cílios torpes,</div>
<div class="MsoNormal">
tão fartos de enxergar.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Das torres brancas,</div>
<div class="MsoNormal">
o sol ameno</div>
<div class="MsoNormal">
o pátio enxágüe </div>
<div class="MsoNormal">
de todo carma,</div>
<div class="MsoNormal">
de toda onda.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Abraçar os cortes, velejar a morte</div>
<div class="MsoNormal">
pensar na sorte e esperar o porte</div>
<div class="MsoNormal">
a crescer em nada, subir a escada</div>
<div class="MsoNormal">
rumo ao clarão dos santos. </div>
<div class="MsoNormal">
Esquece escolha, esquina e tino,</div>
<div class="MsoNormal">
fenece em nuvem e
expia as curvas.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Das brigas polidas a pedra </div>
<div class="MsoNormal">
ao aço esmaltado em tiras, </div>
<div class="MsoNormal">
perfeitas ameias de pérola. </div>
<div class="MsoNormal">
A espera em torno da causa </div>
<div class="MsoNormal">
ondas de engodo sedoso. </div>
<div class="MsoNormal">
Forja os trilhos em alumínio </div>
<div class="MsoNormal">
segue rumo ao destino:</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
É findo.<br />
<br /></div>
.hhttp://www.blogger.com/profile/16690886416234015654noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2299684636906663230.post-22723899249757349272016-06-16T12:34:00.000-07:002017-07-24T13:14:21.634-07:00Da Roda ao FrioMe retiro da roda,<br />
pra tapear os buracos.<br />
<br />
Desfaço as juras,<br />
já todas rompidas<br />
abraço as ruas<br />
uma última vez.<br />
<br />
Sem choro<br />
(é mentira)<br />
o dia se esvai.<br />
Por medo<br />
(é verdade)<br />
o salto não sai.<br />
<br />
E se algum dia<br />
alguém, qualquer,<br />
achar essas linhas<br />
me enforquem.<br />
<br />
Acabaram-se os dias..hhttp://www.blogger.com/profile/16690886416234015654noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2299684636906663230.post-73833589017480679972016-02-15T19:43:00.002-08:002016-02-15T19:49:01.384-08:00Saudade<div style="text-align: justify;">
Depois que a noite esqueceu meu nome vaguei pela alvorada tingida de saudade. Às costas, um choro cortante a rasgar do sol fraco. Daquelas ameias às moscas, cercado pela poeira cada vez mais grossa, a memória da voz rouca a roçar a periferia da cidade de onde nunca saí. Não foram os anos, mas os desmandos de um coração sofrido quem deram adeus a ela.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E nunca mais evoquei a tal lembrança.</div>
.hhttp://www.blogger.com/profile/16690886416234015654noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2299684636906663230.post-79838884378144753822015-08-04T06:58:00.001-07:002017-07-24T13:17:02.937-07:00O Ideal da Cavalaria<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR">Quando
visto esse colete é que fumo. </span>Uma roupa feita de fumaça. Dentes tornados cigarro. <span lang="PT-BR">Uma língua por cinzeiro. </span>Eu durmo vestido, Tomo banho vestido. Se uso capa é por cima da
fumaça. Maço por escudo, isqueiro por lança. Pronto, estou armado contra o mundo. <span lang="PT-BR">A tática é incomum: </span>serpente e leão. Força, velocidade e brutalidade. Um estilo que fere ao proteger.</div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR">Me sagrei cavaleiro por conta
própria. </span>Fiz minha vigília no bar, me
ajoelhei no asfalto, <span lang="PT-BR">tocaram meu ombro com um casco vazio. </span>Das cinzas não renasço, não
cato os cacos. O que vem dos restos é a escória, o lixo reciclado: isso não
serei. Ou me aprimoro ou morro. Não refaço o que restar da total aniquilação, acabo: numa derradeira barricada, no fim da última batalha quando os portões se fecharem, sob a luz das estrelas apagadas.</div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR"><br /></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR">Não combato pra vencer, mas pra
morrer, </span>restar cinzas, espalhar urnas, reconstruir ídolos. Refazer heróis é a minha sina. Se pareço desconstruir é porque a
essência é deturpada na forma, porque o símbolo está desgastado. É megalomania querer restaurar o
mundo, preservar a honra, ressuscitar os mortos.</div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR"> <o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR">Minha Alice não voltou do país das
maravilhas. </span>Blackthorne morreu no naufrágio. Aragorn não foi coroado. Artur é um mendigo. Gilgamesh, um
gerente. Imperatriz Criança é atendente de MacDonald's. Cavalguei com Theóden para a morte, arranquei o tesouro do dragão junto com Siegfried. Me sacrifiquei com Aquiles
por uma guerra sem sentido.</div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
Foi o orgulho dos homens que me matou. A inversão da moral, a proclamação da república, a guerra do Paraguai. Meu
Ragnarok foi a pós-modernidade. Nasci desgarrado de meu tempo
primário, do diabo ativo na peste negra, das profecias de São Malaquias. Sou da espingarda polida, bomba atômica. Quando cota-de-malha é Kevlar, quando
bravura é favela.</div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
A falácia que me mantém de pé, a
verborragia que me guarda a fé. O niilismo que me protege a alma. É uma crise da mediocridade. Sou produto da contemporaneidade, essa coisa covarde desde Napoleão. Sou ocidente, sou cheque especial. Sou futuro irrealizável. Sou conta a pagar.</div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR"> </span></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR">Nada mais banal que a loucura.<o:p></o:p></span></div>
</div>
.hhttp://www.blogger.com/profile/16690886416234015654noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2299684636906663230.post-53263732371000694942015-07-13T20:14:00.000-07:002015-07-14T13:13:43.977-07:00VerãoNo raio de sol, a viagem é mais limpa.<br />
Não tem a sujeira do armário velho,<br />
poeira sobre a casca do escaravelho,<br />
ou a cozinha manchada de tinta.<br />
<span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span><br />
Sem os fantasmas, o assombro é outro:<br />
no vermelho do horizonte distante<br />
alcançado para além do sextante<br />
onde montanhas a beijar o Poente.<br />
<br />
Não é da boca que sai a paixão:<br />
calada a caneta, rabisca perene.<br />
Assume o papel de língua esperta<br />
esgrime contra o peito deserto.<br />
<br />
Te quero desperta.<br />
Pra ouvir o som mudo da chuva,<br />
se vestir de trovão na manta,<br />
soprar terremotos no ventre.<br />
<br />
Nem que seja pra não sentir frio,<br />
mesmo que passe pela rodovia em curva,<br />
apesar dos desvios em nossos destinos.<br />
<br />
Escrevo cartas silenciosas<br />
carregadas por pipas ao vento.<br />
Meu relógio parou faz uma hora<br />
e não sei se você volta.<br />
<br />
É como o passar das estações<br />
quando o inverno aguda o verão..hhttp://www.blogger.com/profile/16690886416234015654noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2299684636906663230.post-74940307197486062572015-07-06T21:50:00.001-07:002015-07-06T21:52:38.790-07:00Capuz de BandidoAgarrava minha mão com força,<br />
beijava de mordida armada,<br />
não perguntava se era amada. <br />
Desmontava a minha cerca.<br />
<br />
Jogava póquer se apostando.<br />
Trancava a porta e sumia,<br />
se jogava da janela quando<br />
enjoada do som da boemia.<br />
<br />
Não penteava os cabelos,<br />
esquecia pra trás os chinelos,<br />
e me matava de desespero<br />
com seu amor efêmero.<br />
<br />
Eu, que sou dos meus silêncios,<br />
que nunca saí do lugar, reverencio<br />
esse espírito de fogo livre<br />
saído d'um sonho que tive.<br />
<br />
Agora me esquece, indolente,<br />
como se eu fosse carnaval.<br />
Sai em busca do vendaval<br />
deixando a mesa, inadimplente.<br />
<br />
Agora me leva, temerária<br />
à borda do despenhadeiro:<br />
me ameaça, usurária,<br />
por ti viro bandoleiro.<br />
<br />
Assaltar as estradas cruas,<br />
dedos soltos, mãos nuas<br />
pra resgatar pedaço mofado:<br />
esse meu peito inchado.<br />
<br />
Feito cadáver no deserto<br />
devoro vermes de areia<br />
só pra te converter a atéia:<br />
me expulsa de peito aberto<br />
<br />
<br />
<br />.hhttp://www.blogger.com/profile/16690886416234015654noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2299684636906663230.post-11585770259447489262015-04-27T09:06:00.002-07:002015-04-27T09:06:12.934-07:00Beijo Roubado (Ou: O Fantasma de Dickens)<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span lang="PT-BR">A Carol era uma menina linda. Tinha
cabelo de cachinhos e olhos que mudavam de cor em dias chuvosos. Usava anéis em
todos os dedos e camiseta dos Ramones por baixo do uniforme. Nunca falava
comigo, nem com ninguém com quem eu andava. Era a minha paixonite durante a
sétima série e tinha o dom de sempre aparecer quando eu era rejeitado para o
time de futebol na educação física ou então quando eu derramava coca-cola nas
calças. De todas as paixões da minha vida, ela foi a mais secreta, porque eu
não tinha coragem nem para olhá-la, evitava o seu nome.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span lang="PT-BR"> Foi a primeira vez que
reencontrei uma paixonite de colégio quando ela passou por mim com um grupo de
amigas, rindo de uma cena ridícula, dessas típicas de quando se reúne gente
bêbaba sem pretensão de maturidade. O protagonista da cena, claro, era eu.
Disputava um concurso de vira-vira com uns calouros da faculdade enquanto
tentava acender um cigarro pelo lado do filtro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span lang="PT-BR"> Apesar do ridículo
mundano, senti como se fosse visitado
pelo fantasma do natal passado, de Dickens; um momento de resignificação
filosófica, de reavivamento do passado, vendo a história viva bem à minha
frente como um espectro de carne e osso saído de um sonho que tive na aula de
Historiografia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span lang="PT-BR"> E ela pareceu não me
notar. Ria da palhaçada toda, mas não me reconhecia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span lang="PT-BR"> Ganhei aquele concurso
no final das contas e achei que aquele fantasma não mais me assombraria.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span lang="PT-BR"> Passei a ver a Carol às
vezes no corredor da faculdade ou na fila do xérox, mas nossos olhos nunca se
encontravam. Nunca dissemos bom dia um pro outro. Ela não usava mais camiseta
de banda e nem tinha os tantos furos na orelha quanto na adolescência. Eu ainda
era magricela, de óculos, calças desbotadas. Ainda tentava ler Niesztche e Marx
escondido e Homem Aranha às claras.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span lang="PT-BR"> Por vezes ela se sentou
ao meu lado na cantina, sozinha, enquanto eu esperava o início de um período de
aulas acompanhado por um café ruim. Nessas horas eu mantinha a atenção ferrenha
em algum texto ou trabalho que estivesse preparando para apresentar. Não que eu estivesse ocupado demais, eu tinha
era medo de olhá-la.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span lang="PT-BR"> Só que dessa vez não
era paixão. Era a estranheza de sentir um passado tão próximo ao presente. Era
ver ruir a crença de que eu tinha mudado desde os catorze anos, era me sentir
de novo o moleque desajeitado no pátio do colégio, com o coração ardendo por um
beijo, fingindo que não ligava para o som de um nome martelando na testa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span lang="PT-BR"> Ela era a lembrança
viva de tudo o que eu achava ter esquecido, da pessoa que eu acreditava ter
superado. O choque do ontem com o hoje e o contraste de dois momentos que eu
julgava tão diferentes na minha vida. Assim eu me agarrava, inconsciente, ao
que, de fato, era novidade em mim desde aqueles tempos: fumava. Todas as vezes
que ela aparecia, acendia um cigarro. O sujeito do xeróx sempre me olhava puto
e os seguranças, quando me viam, pediam educadamente para eu, ou apagar o
bendito, ou sair do corredor fechado. Ainda assim ela não me notava. Tirando
uma vez que fez uma cara feia pra fumaça que eu admirava espiralando no ar frio
de junho. Mas aí ela notou foi a fumaça.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span lang="PT-BR"> A Carol sempre andava
com uma turba de amigas barulhentas e bonitas. Nunca descobri que curso ela
fazia ou sequer se estudava com essas amigas. Eu já tinha tomado toco de metade
delas, depois de ter ficado com uma certa Alice, que parecia ter alguma relação
com uma delas. Eu nunca soube se era porque a tal Alice tinha me marcado como
gado dela ou se porque eu dei o bolo num dos outros encontros com ela, porque
eu tinha começado a namorar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span lang="PT-BR"> Aliás, eu namorava quando
vi a Carol de novo. E namorava sentindo aquela aproximação do meu passado.
Fingia que não me borrava de medo do momento em que as duas estivessem num
mesmo ambiente, porque aí quaisquer mentiras que eu contava para mim mesmo
seriam postas à prova, me revelando como o sujeito desprovido de intenções e
ambições de seis anos antes.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span lang="PT-BR"> Acho que era o conflito
que todo mundo sente ao analisar o passado sob uma perspectiva diferente da
época em que viveu. E, quando é sobre você, não existe análise clínica que salve
a imparcialidade. É medo de não só se ver despido, mas de se descobrir no
ridículo do próprio íntimo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span lang="PT-BR"> Assim sobrevivi ao
semestre e me vi confortável, aos poucos, na situação. Afinal, se a Carol não
se lembrava de mim, que passado havia para ser desnudo? Enquanto eu pudesse
manter as lembranças dentro, o passado era um fantasma mudo e invisível, uma
mera presença que se tornava cada dia mais débil. A Carol ia fazendo parte do
presente: da miríade de rostos semi-conhecidos que mudavam como um caleidoscópio
que forma imagens que a gente nunca se lembra muito bem de como eram.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span lang="PT-BR"> Tão relaxado que
fiquei, acabei cometendo um único deslize ao verbalizar o que ninguém sabia,
ninguém tinha como saber e não devia saber: que eu conhecia a Carol. Foi um
amigo que disse que estava afim "da loirinha bonita". Estávamos
jogando truco num boteco, comíamos o pior frango empanado que já saiu de uma
panela e bebíamos a cerveja mais gelada e barata da cidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span lang="PT-BR"> "Quem é
essa?"<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span lang="PT-BR"> "Você não conhece.
Uma bonita, é da sala da Alice, que você pegou no festival de inverno do ano
passado."<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span lang="PT-BR"> "Uma que veio de
transferência? Conheço sim."<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span lang="PT-BR"> A apropriação que o
sujeito fez me irritou na hora. Como ele ousava dizer que eu não conhecia ela?
Como tinha a pachorra de desconstruir o passado que queimava tanto na minha
memória, mesmo que em segredo absoluto? Um passado tão presente e de tormento
tão constante que já fazia parte de quem eu me tornava?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span lang="PT-BR"> "O nome dela é
Carol. Conheço. Estudou no mesmo colégio que eu."<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span lang="PT-BR"> O assunto ficou por aí
depois de uma exclamação de desinteresse por parte do meu amigo. E, naquele
dia, eu pensei bastante sobre a importância que eu dava pra uma menina que nem
ao menos sabia meu nome e uma importância que, eu tinha certeza, era desprovida
de paixão. Era só uma neurose minha, que devia ter mais a ver com uma crise de
identidade típica dos vinte anos do que com o drama de um segredo esquecido, de
um fantasma. Afinal, o que era a Carol pra mim? Não era nada. Tinha sido um
sentimento reprimido, mas que eu tinha esquecido com o passar dos anos. Tinha
afogado com outros amores.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span lang="PT-BR"> E aquilo me relaxou,
apesar de o meu parceiro de truco ter ficado desconsolado com a minha
desatenção reflexiva, que resultou na nossa derrota por lavada. Nem me importei
quando o amigo me disse que ia levar a Carol pra quebradeira de fim de semestre.
Achei bobagem o meu medo de ver a a menina e a minha namorada sob o mesmo teto.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span lang="PT-BR"> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span lang="PT-BR"> Já tinha deixado essas
coisas pra lá quando entrei na tal quebradeira de mãos dadas e camisinha no
bolso. Assistia ao show, quando o tal amigo chegou na festa, sozinho, e veio me
cumprimentar. Na hora a namorada conversava com uns amigos de quem eu não
gostava. Acabei perguntando:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span lang="PT-BR"> "Cê não vinha
acompanhado, cara?"<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span lang="PT-BR"> Ele me explicou que o
esquema parecia não ter dado certo, mas que ainda ia colocar todas as fichas
numa última investida quando ela chegasse. Desejei boa sorte e conversamos
sobre o campeonato brasileiro e sobre as outras mulheres na festa, sobre as
notas que tinham saído e sobre o último filme do Almodóvar, que não tinha sido
tão bom quanto os outros.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span lang="PT-BR"> Lá para tantas da
noite, eu e a minha namorada estávamos brigados e ela tinha ido embora puta da
vida comigo, que insiti em ficar, dizendo que aquilo não ia estragar minha
noite quando era só uma desculpa para ficar muito bêbado e remoer a raiva. Tinha
saído pra fumar e já estava no segundo cigarro seguido quando alguém parou ao
meu lado e me olhou fixamente, causando aquele incômodo de ser observado que só
piora quando a gente tá com raiva.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span lang="PT-BR"> "Eu acho que te
conheço de algum lugar."<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span lang="PT-BR"> A Carol chegava, como
sempre, nos momentos em que eu me sentia mais idiota. E o pior! Escolheu justo
aquele pra se lembrar de mim e vir conversar. Olhei pra ela, meio sem paciência
e respondi que também já a tinha visto antes.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span lang="PT-BR"> "A gente tem o
mesmo período livre na Quarta. Você sempre senta perto do canteiro, fica de
frente pra cantina."<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span lang="PT-BR"> "Não, isso não. Eu
te conheço da escola."<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span lang="PT-BR"> Me senti estúpido por
só ter notado então que ela tinha alisado os cabelos. Usava uma camiseta dos
Ramones, mas não era tão bonita quanto antes, quando tinha cachos. Franzi o
cenho, fingindo pensar, enquanto olhava pro rosto dela, angulado com o queixo
fino e o mesmo ar superior de quem conhece algum segredo valioso e não pretende
dividir com ninguém.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span lang="PT-BR"> "Você tinha o
cabelo diferente, né?"<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span lang="PT-BR"> Ela riu, passando os
dedos pelas mechas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span lang="PT-BR"> "Tinha sim. Você
também, aliás."<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span lang="PT-BR"> Expliquei que tinha
cortado o cabelo, que na escola era comprido, apenas alguns meses antes e ela
respondeu que tinha ficado melhor. Como corei daquela frase vazia e sem
pretensão! Mas estava escuro ou então eu já devia estar bêbado demais para que
isso fosse confundido com a embriaguez do álcool.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span lang="PT-BR"> Fizemos um minuto de
silêncio desconfortável. O meu cigarro pendendo inútil, porque eu evitava a
careta de desgosto dela. Mas como o papo não parecia ter vias de continuar e
ela continuava por lá, mandei um foda-se mental e traguei, soprando a fumaça
para longe dela.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span lang="PT-BR"> "Tem um cigarro
aí?"<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span lang="PT-BR"> A pergunta dela atraiu
a minha atenção. Tirei o maço vazio do bolso e mostrei como pra provar que
aquele era o meu último. Ela olhou por cima do ombro, para onde a festa
acontecia e as amigas estavam, onde o meu amigo esperava por ela sem chegar em
mais ninguém, onde a minha namorada não estava mais. O fez como alguém que olha
por cima do ombro antes de transgredir ou como uma criança fazendo arte.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span lang="PT-BR"> Sem mais nem menos,
tirou o cigarro da minha mão. Eu percebi que ela não usava batom, que os seios
tinham crescido, que não estava mais alta e que eu usava a mesma camiseta que
usei no dia em que comecei a namorar. E ela fumou daquele jeito desconfiado,
como se estivesse se escondendo ali, no passeio, de frente pra rua onde pessoas
passavam.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span lang="PT-BR"> Me lembrei do que a
minha namorada disse quando me apaixonei por ela. Que dividir um cigarro era
coisa íntima. Só faziam os amantes mais apaixonados, as pessoas mais próximas.
Que era como um beijo de fumaça, que desvanecia esquecido na noite até restar
uma guimba apagada sobre paralelepípedos e a lembrança. E, justamente por não
ter outras provas, já que as guimbas são recolhidas ao final de cada festa, é a
lembrança mais verdadeira e o beijo mais ardente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span lang="PT-BR"> A Carol sorria pra mim
com os olhos, enquanto passávamos o cigarro um para o outro, como se fosse um
baseado. Quando acabamos, ela fez questão de atirar a brasa ainda acesa à
noite.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span lang="PT-BR"> "Não pode contar,
tá? Minhas amigas acham que eu parei."<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span lang="PT-BR"> Eu ri e prometi que não
ia dizer pra ninguém.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span lang="PT-BR"> "Vai ser o nosso
segredo."<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span lang="PT-BR"> Entramos na festa
juntos justamente quando uma banda começava a tocar, abrindo com "Come
Together" e ela dançava pra mim.<o:p></o:p></span></div>
.hhttp://www.blogger.com/profile/16690886416234015654noreply@blogger.com1