Não foi sem medo
nem acidente
que nossa trilha
escasseou.
Foi por não dizer
o que penso.
Respiro aliviado:
a culpa é sua.
Por não ser minha.
Por eu ser eu.
Pelo céu.
Mas o piso ainda é firme.
O chão é o mesmo.
A promessa é livre.
É mais ano que passa
que coisas que faço.
É mais tempo que foge
que dias que escapo.
É mais saudade que sinto
que vontade de abraço.
É o chumaço de contas.
Uma casa que desmonta.
Numa nuvem de chuva
talvez me descubra:
sou outros homens.
Eu sou a ruela no porto.
O beco sombrio.
Puteiro barato.
O cigarro que não apaga.
sexta-feira, 25 de abril de 2014
terça-feira, 4 de fevereiro de 2014
Os Anos
Meu caro
amigo,
Os dias passam e às vezes ainda
penso que a gente tem alguma bebedeira marcada pra quinta. Que eu preciso ouvir
sua opinião sobre o último filme que saiu. Deixo sempre um copo vazio na mesa
com o seu nome. Um último cigarro no maço pro fim da madrugada, quando a
saudade é mais devastadora, antes da ressaca tomar conta do mundo.
A gente ainda não vai poder tomar o
porre de quinta à noite juntos. Mas deixa uma mesa pronta pra quando eu chegar,
porque eu vou estar com sede e com fome. Daí sim vamos botar a conversa em dia,
trocar notícias, brigar sobre o último Batman no cinema. Deixa a cerveja
gelada, que eu levo o whiskey. Prepara as cartas e as fichas, que eu levo os
charutos.
Pode demorar ainda, então não
precisa de pressa. Faz a coisa bem feita por aí, que eu não quero bebida choca
nem baralho marcado. Certifique-se de que os dados não estão viciados (eu sei
que você trapaceia). Eu vou cuidar das coisas por aqui enquanto der, então
não se preocupa.
Vou fazer o possível pra que todo
mundo siga seu caminho direito. Pra que sua namorada continue a viver. Que
nossos amigos se lembrem sem se sentirem mal. Que ninguém carregue mais bagagem
do que o lombo suporta. De que os domingos continuem sendo tediosos e que as
ressacas não durem mais do que deveriam. Vou dar um jeito de conviver com a
saudade sem me destruir. Espero que faça o mesmo por aí.
Um
abraço,
h.
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