terça-feira, 26 de julho de 2011

Rede Social

Acordou um dia e a saudade não era mais suficiente pra matar a falta. Cansara daquilo tudo, da distância, do afeto digitado, do gozo sem abraço, do gosto de estrada. Não se arrependeu. Suspirou, incomodada com a cama ocupada, e foi passar o café. Acendeu um cigarro e esperou na cozinha. Nem a companhia da fumaça, nem o som da luz na janela de vidro; nada. Não queria mais.

Quando ele se revirou na cama (agora vazia) desconfiou que tinha tudo passado. Sentiu medo da mágoa que viria e fingiu dormir. Quis tornar pedra o coração, mas era carne de caráter fraco. Respirava pesado quando ela guardou as roupas na mala, tirou a escova de dentes do banheiro e ajeitou os cabelos de qualquer jeito.

Ele sentiu vontade de fugir do inevitável: da despedida que precede a separação. Ela queria saltar o tumulto do adeus. Escreveu um bilhete curto. Ela sabia que ele fingia dormir e ele sabia que ela sabia, mas continuaram a fingir. No final, será que também não tinham fingido que se amavam? Sem um teclado o diálogo era curto. Sem a tela a imagem era turva. Sem a espera da resposta a conversa era burra. Sem o mundo entre eles o desejo era parco.

Chorou quieto, afinal, a expectativa perdida. Abriu as janelas pra deixar o cheiro sair (de cigarro e shampoo de anis). Bebeu o café sem açúcar e jogou fora o bilhete sem ler.

7 comentários:

  1. 'Sem um teclado o diálogo era curto. Sem a tela a imagem era turva. Sem a espera da resposta a conversa era burra'
    A escrita dele sempre me deixa pensando que TUDO é verdade...Ele nunca assume que sim, desassume tudo pra mim!
    Eu vou ler esse bilhete... vou até o fim!

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  2. ele dizia que sentia saudades
    ela dizia o mesmo
    ele mentia
    e ela mais ainda

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  3. Talvez você nem se lembre de mim Hugo, aqui quem fala é o Gui, dos fóruns de CDZ, de BH. Mas que blog foda, cara! Seu texto exatamente do tamanho certo, com as palavras certas. Muito bem feito, gostei muito de encontrar esse espaço. Raro achar um blog tão bacana! Estou seguindo e voltarei mais vezes! Espero que esteja tudo bem!

    Abração.

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  4. Foi o primeiro texto que li...! Gostei.

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  5. Muito bom! Quem nunca passou por isso?!

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  6. (...)do afeto digitado, do gozo sem abraço, do gosto de estrada. Vou chorar...abraço, Lara.

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