terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Os Anos


Meu caro amigo,

            Os dias passam e às vezes ainda penso que a gente tem alguma bebedeira marcada pra quinta. Que eu preciso ouvir sua opinião sobre o último filme que saiu. Deixo sempre um copo vazio na mesa com o seu nome. Um último cigarro no maço pro fim da madrugada, quando a saudade é mais devastadora, antes da ressaca tomar conta do mundo.
            A gente ainda não vai poder tomar o porre de quinta à noite juntos. Mas deixa uma mesa pronta pra quando eu chegar, porque eu vou estar com sede e com fome. Daí sim vamos botar a conversa em dia, trocar notícias, brigar sobre o último Batman no cinema. Deixa a cerveja gelada, que eu levo o whiskey. Prepara as cartas e as fichas, que eu levo os charutos.
            Pode demorar ainda, então não precisa de pressa. Faz a coisa bem feita por aí, que eu não quero bebida choca nem baralho marcado. Certifique-se de que os dados não estão viciados (eu sei que você trapaceia). Eu vou cuidar das coisas por aqui enquanto der, então não se preocupa.
            Vou fazer o possível pra que todo mundo siga seu caminho direito. Pra que sua namorada continue a viver. Que nossos amigos se lembrem sem se sentirem mal. Que ninguém carregue mais bagagem do que o lombo suporta. De que os domingos continuem sendo tediosos e que as ressacas não durem mais do que deveriam. Vou dar um jeito de conviver com a saudade sem me destruir. Espero que faça o mesmo por aí.

                                                Um abraço,

                                                                        h.