À paz do cosmos
gira gravidade
Ao silêncio da poeira
irradiada
presto uma reverência
Vibram esferas
dentro de uma noite
interminável
Se deixar
não faço mais nada
Todo cigarro é o último
Até comprar mais um
Drago do fundo
Soprpo remorso
Reviro estômago
Exponho os bofe
Mas vem a raiva
A
falta
Tristeza e saudade
Que sufoca a boca
Embaça a vista
Que nem fumaça
Põe as cigarras
Em pranto
Uma lambança
Chuva, lama, furacão
E cai o relâmpago:
Clarão e estala o chicote
Seis e meia da manhã e falta quinze minutos pra sair. Vou à pé, demoro quatorze minutos pra chegar e chego um minuto adiantado. É assim.
Seis e quarenta dá aquela vontade de ir ao banheiro. Tenho cinco minutos pra cagar.
Demorei seis, fiz o trajeto em onze, cheguei dez minutos atrasado.
O que mais dói é eu tá inteiro.
Queria estar partido, esmigalhado, fragmentado - mas não, tô inteiro. Completo apesar da falta (DAS faltas), caminhando em linha reta rumo a um amanhecer final. Que pode ser amanhã, daqui a cem anos, oito dias ou nove meses - mas é mais provável que demore a acontecer. Porque cada passo dói, mas acontece, cada expiro leva a uma nova inspiração e assim por diante feito roda gigante que gira e gira mas sempre retorna ao ponto - é partida ou recomeço?
Quando não sei o que fazer você não está lá - sou só eu mesmo à luz da minha consciência. Que quando paro, perdido, não estou só mas tem alguém comigo que sou eu mesmo. E tu. Porque um ano ou dez ou mais não apaga a trilha bem percorrida nem a memória esmaece o que importa - que foi a gente. É a gente, sentado ali naquela beira de precipício que por fim se mostra ser só mais uma borda enevoada, mas que tem saída. Não sei é de mais nada mas continuo contra vontade própria a acordar todo dia de manhã. Tem volta, mas demora - é um alinhamento entre muitos e a gente vai se esbarrando a cada encruzilhada que importa.
Continuo a sonhar com a sua volta mas tem passagem que não aceita a mão dupla. É melhor assim. Vou guardar o "se" pra quando for a hora, quando der a volta e a gente se esbarrar mais uma vez. Sinto sua falta (pronto, falei) e não creio que vá deixar de sentir até um novo amanhecer. Não me espera, segue a forma que for, que o carrossel gira e volta - naturalmente. Guardo a sua falta.
Se for pra ser épico, que seja. Nos surpreenda - o que quer que venha. Se for pra ser vil que seja, mas deixa a seta cruzar o ar pelo caminho que seja melhor. Já ia falar de cerveja - mas você não bebe então deixo que seja como quiser. A gente se encontra na curva, na borda mais próxima, no tempo que vier. Não espera e segue - que eu sigo daqui. Não dá pra reverter o fluxo do rio sem perder o fio da meada.
Segue que eu sigo e mais tarde a nossa órbita se encontra.