segunda-feira, 22 de março de 2010

Outro Dia

Cruel o destino que a tirou de mim.
Canhestra a faca e o punhal
que imaginei;
te levaram pra longe e eu fiquei
dormindo na sala, esperando.

o dia passar
a lua chegar
a porta bater
a música tocar

Você chegar de repente
pra mudar meu dia,
cansar meu ouvido,
contar da vida
e sair dançando, saltitante.

Salto o tempo
paro o verbo
repito e penso.

As tardes de preguiça quente
te chamam de saudade
e solidão, sua irmã.
Solitário abraço do sol
em mim, sem ti. Em nós, só eu.
Sou eu quem perco o sono;
evoco fantasmas,
assombrações ao pé de sua cama.
Chamo os teus tormentos
e me atormento no seu lugar.
Vivo seus temores
pra que viva sem mim,
pra que viva sem ti,
contigo sem estar.

Espectro da vil tormenta!
Da vida em vida afora,
jogada fora, quebrada
janela do alto andar.
Fechada estava a porta.
Escabrosa falta!
Negação!
Eis o motivo da tua partida:
o meu coração partido.

Fui medo.
De mim e de ti.
Comigo e contigo.
Sem.

Se em ti não te cansas
não me importo.
Vou me casar nos teus braços.
Ó aperto de mim que não há.
Agarro-te mesmo assim.
Não solto os dedos brancos
trêmulos, imóveis, belos.

Tua beleza imoral
me provoca o peito,
suspira.
Tua beleza imortal,
só minha e sozinha.
Só eu vejo a sua

(alma que voa pra cima)
(calma silenciosa e paz)
(se vai sem me deixar)
(se me deixa em tombo)
(eu tombo seu nome)
(em um túmulo sem anjo)
(serei teu guarda, só teu)
(e não deixarei que parta)
(sem que esteja pronta)
(sem que esteja farta de mim)
(sem que eu esteja)

É nossa a valsa fria
diz adeus sem despedir
e continua minha alegria
sempre-viva de enfeite.
Não se vá! Não se vá!
E fica um outro dia.
Toda minha, toda minha.