domingo, 2 de dezembro de 2012

e a roda continua a girar

(resposta a Reflexão Sobre Latidos Noturnos)

  Não sou mais o cão vadio. Não me sinto como o traste humano, personagem dúbio que mostra nobreza no momento crucial. Não mais canto os nomes delas pelos bares. Às vezes ainda sinto o bicho (cão) rondando no limiar do pensamento, mas é raro. Talvez agora o corvo tenha tomado seu lugar. Zombeteiro, dúbio ao seu modo. Mas não uiva à luta, não mostra as costela famintas, os carrapatos ou as sarnas; muito menos as cicatrizes.
  O cão tem orgulho da miséria. O corvo ri dela, mas prefere se orgulhar das penas (figurativas e literais) negras lustrosas. Agora tenho asas agourentas, posso voar até a lua e voltar, ao invés de uivar impotente a canção do fracasso.
  Ser o corvo me liberta? Ou me prende a outras coisas, outros símbolos?

  O cão está preso ás sarnas, o corvo ao negro das asas.

  O que virá a seguir?
  Gato?
  Boi?
  Cobra?
  Coelho?
  Escorpião?
  A que outra pele imaginária irei encarnar depois, nessa vida de muitas vidas?
  Quando serei homem?

 (PS: esse texto me deu uma poesia, uma que finalmente eu gostei bastante e acho realmente boa. Talvez um dia coloque por aqui ou talvez guarde pra uma outra publicação em algum outro lugar)

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