sábado, 18 de dezembro de 2010

Invisível

Sentado, imóvel, via tudo sem ser visto. Ou melhor: era visto, mas não era notado. As pessoas passavam ao redor, frenéticas e ignorantes. Alguns lhe jogavam moedas, numa piedade condicional: pagavam para não ter de olhar os olhos. Parecia cansado, o rosto marcado, a barba longa e suja, os fios brancos na cabeça, dentes faltando e os anos sobre os ombros. Mas não era cansaço. Era algo mais profundo: um terror abjeto de ser esquecido. Se não fosse mais lembrado, continuaria a existir?
Na verdade, só existia por mera formalidade, porque era como se não estivesse realmente lá. Enquanto pensava nisso, virou-se e me fitou com assombro. Era como se ele nunca tivesse visto alguém de terno antes. Não! Era como se nunca tivesse sido visto por alguém de terno antes!
Por um segundo, seus olhos cintilaram, esperançosos. Então paguei a conta do meu café, fui embora e nunca mais pensei sobre ele.

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