Meu corpo é uma gaiola que me impede de morrer.
Nele me prendo a pervesas traições e tormentas.
São do corpo, meu bem. Meu corpo. São de mim, que não posso partir.
Sai de mim que eu não quero mais. Saio de perto de tudo pra não sentir,
pra não sentirem meu medo, minha pena, meu só. Meus.
Não diz que é raiva do mundo.
Mesmo que seja, quero mentir pra você e dizer que estou bem,
guardar os monstros que tenho.
É raiva de mim, dos meus erros, do arrependimento de merda,
da falta que faz o perdão e o peso que tem a desculpa:
Desculpa se te magoei. Só fiz pra me matar mais um pouco.
Meu corpo é uma gaiola.
E meu espírito é um bicho feio, agourento e com preguiça de nascer.
Tem cheiro de medo, o meu viver. Tem gosto de sangue, seco. Não tem cor.
Sei de cor os seus problemas, mas não penso nos meus, só os bebo.
Não quero saber.
Se te perdi, não me achei, se te acho feia e gorda, não me importo.
Só te importa você e só me importa a mim, mas ainda gosto de ti
mesmo que não me ligue de volta.
Não passo a noite mas, só pra te encher, chamo seu nome.
Se você responde mal humorada e com pena, me magoa.
Se não grita de volta, me emputece e eu praguejo contra o vento.
Como o som dos grilhões: enferrujados e reticentes,
um rangido doente.
Não vou mais embelezar os meus versos com a Lua
nem vou cantar o seu nome nos bares.
Não posso mais beber do gosto da sua língua.
Meu sentimento amargou.
É feio:
Sentir rancor de quem sou e tirar a sua culpa do cartório,
lembrar do faz de conta que inventei pra nós dois
e pensar que fiz tudo por conta própria.
Não suporto a companhia das minhas dores, nem do seu silêncio mordaz.
Meus sentidos são seus, mesmo que não queira guardar.
Os meus versos são seus, mesmo que não queira gostar.
O que resta se afogou no copo e se perdeu na ressaca.
Pago bem por um tiro na testa