quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Passado Imperfeito


            Cigarros jogados fora,
            amores queimados em palha,
            dores passadas atoa.
            Passadas ou mal passadas.
            Cruas, nuas ou vestidas.

            Nada perdido
            a não ser o tempo
            e a vontade de querer,
            fazer desmoronar
            o mundo sobre as mágoas.
            Águas amargas e desnutridas
            alimentadas com o desgosto.
            O esgoto do coração
            humano
            desejo imperfeito
            inquerido
            insano
            impuro
            natimorto.

            Cinzeiros cobertos
            de brasas acesas.
            Um fogo guardado
            pra não mais acender.
            O dia esperado
            pra nunca vir.
            O tempo passado
            do que não vai ser:

            a sua companhia
            e a minha.

            Insiste em jogar
            mais um dado
            e aceita a má sorte,
            meu caro.
            É assim.

            Fecha as asas
            e tranca a gaiola,
            mas o gosto fica
            pra refazer os passos,
            remoer os sentidos,
            reler o resumo:
                       
            foi só um rascunho.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Sábado de Chuva


Guarda a chuva pra mais tarde
e fecha o coração.
Agüenta a tempestade
e não sai da rua.

Onde o vento faz a curva,
não perca os sapatos.
Onde o mundo desafunda
não importam os calos.

Guarda a chuva
e molha os problemas mais tarde.
Segura a onda
e espera uma maior chegar.

Deixa o pior
e aproveita o som do trovão:
não é todo dia que o mundo desaba.

Deságua as dores no rio
e desinfeta os maus amores.
Abriga as mágoas no peito
e resolve tudo numa briga de bar.
Gargalha o afeto desfeito
e vomita o exagero no mar.
Desaba uma conta na mesa
e paga com as dívidas do amor.
Deixa a ressaca sair
e curte o domingo de dor.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Rede Social

Acordou um dia e a saudade não era mais suficiente pra matar a falta. Cansara daquilo tudo, da distância, do afeto digitado, do gozo sem abraço, do gosto de estrada. Não se arrependeu. Suspirou, incomodada com a cama ocupada, e foi passar o café. Acendeu um cigarro e esperou na cozinha. Nem a companhia da fumaça, nem o som da luz na janela de vidro; nada. Não queria mais.

Quando ele se revirou na cama (agora vazia) desconfiou que tinha tudo passado. Sentiu medo da mágoa que viria e fingiu dormir. Quis tornar pedra o coração, mas era carne de caráter fraco. Respirava pesado quando ela guardou as roupas na mala, tirou a escova de dentes do banheiro e ajeitou os cabelos de qualquer jeito.

Ele sentiu vontade de fugir do inevitável: da despedida que precede a separação. Ela queria saltar o tumulto do adeus. Escreveu um bilhete curto. Ela sabia que ele fingia dormir e ele sabia que ela sabia, mas continuaram a fingir. No final, será que também não tinham fingido que se amavam? Sem um teclado o diálogo era curto. Sem a tela a imagem era turva. Sem a espera da resposta a conversa era burra. Sem o mundo entre eles o desejo era parco.

Chorou quieto, afinal, a expectativa perdida. Abriu as janelas pra deixar o cheiro sair (de cigarro e shampoo de anis). Bebeu o café sem açúcar e jogou fora o bilhete sem ler.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Gaiola de Urubus

Meu corpo é uma gaiola que me impede de morrer.
Nele me prendo a pervesas traições e tormentas.

São do corpo, meu bem. Meu corpo. São de mim, que não posso partir.
Sai de mim que eu não quero mais. Saio de perto de tudo pra não sentir,
pra não sentirem meu medo, minha pena, meu só. Meus.

Não diz que é raiva do mundo.
Mesmo que seja, quero mentir pra você e dizer que estou bem,
guardar os monstros que tenho.
É raiva de mim, dos meus erros, do arrependimento de merda,
da falta que faz o perdão e o peso que tem a desculpa:

Desculpa se te magoei. Só fiz pra me matar mais um pouco.

Meu corpo é uma gaiola.
E meu espírito é um bicho feio, agourento e com preguiça de nascer.
Tem cheiro de medo, o meu viver. Tem gosto de sangue, seco.  Não tem cor.
Sei de cor os seus problemas, mas não penso nos meus, só os bebo.
Não quero saber.

Se te perdi, não me achei, se te acho feia e gorda, não me importo.
Só te importa você e só me importa a mim, mas ainda gosto de ti
mesmo que não me ligue de volta.

Não passo a noite mas, só pra te encher, chamo seu nome.
Se você responde mal humorada e com pena, me magoa.
Se não grita de volta, me emputece e eu praguejo contra o vento.
Como o som dos grilhões: enferrujados e reticentes,
um rangido doente.

Não vou mais embelezar os meus versos com a Lua
nem vou cantar o seu nome nos bares.
Não posso mais beber do gosto da sua língua.
Meu sentimento amargou.

É feio:
Sentir rancor de quem sou e tirar a sua culpa do cartório,
lembrar do faz de conta que inventei pra nós dois
e pensar que fiz tudo por conta própria.

Não suporto a companhia das minhas dores, nem do seu silêncio mordaz.
Meus sentidos são seus, mesmo que não queira guardar.
Os meus versos são seus, mesmo que não queira gostar.

O que resta se afogou no copo e se perdeu na ressaca.

Pago bem por um tiro na testa

terça-feira, 10 de maio de 2011

Embora Não Queira, Vou

Fui embora numa Lua cheia,
                   numa nuvem de chuva
                   numa noite de rua

e não te vi

Prendi o fôlego,
engasguei o choro,
e segurei a noite

nas mãos sem calos:
ficaram todos no peito.

Mentira.

Me calo à sorte
pra nunca!
                    mais
                              e a saudade
continuar a estrada

azar
        o seu
                  se não vier
        o meu
                  se não vier

Traz mais um copo e senta,
que eu trago um cigarro em sina
e tomo um trago de pinga
pra me ensinar a deixar pra lá.

Embolo a língua
à espera do trovão que não vem

da sua nem da minha

um estalo e acaba,
um estrondo e se cala
sem barulho nenhum,
sem protesto que seja.

Passou.

terça-feira, 26 de abril de 2011

O Casamento e O Beijo

Era o casamento de um conhecido. Próximo o suficiente para que eu fosse convidado pra cerimonia na igreja, mas não para a recepção. Tive que tirar o terno da naftalina, ensaiar o nó da gravata até parecer aceitável e espremer os pés no sapato preto (combinando com o cinto). Nunca gostei de usar terno e muito menos de casamentos, mas mesmo assim tive que ir. Certos compromissos a gente tem que ir.

Enfim. Lá estava eu, vestindo um terno puído e velho, com sapatos mal engraxados e sorriso amarelo. Não conhecia quase ninguém, afora os noivos e provavelmente dava a impressão de ser um vagabundo diante dos paletós bem passados e vestidos longos.  Durante aqueles primeiros momentos da noite, enquanto as pessoas circulavam pela porta da igreja se cumprimentando, fiquei meio perdido. Tinha um maço de cigarros no bolso de dentro do meu paletó, mas tive medo de receber olhares desaprovadores, então deixei quieto.

Óbvio que eu não estava com a menor vontade de estar ali e os próprios noivos mal notaram a minha presença. Se não tivesse ido, por outro lado, a minha ausência seria escandalosa, inegável, inadmissível. Fiquei tentando inventar histórias na minha cabeça pra tornar a ocasião mais divertida: imaginei ETs invadindo a Terra no exato momento em que os noivos diriam “sim”, com armas laser, prontos para escravizar a humanidade mesquinha com seus ternos de três botões e nós de gravata windsor.

Chegada a hora todos foram entrando na igreja como um rebanho de ovelhas. Me juntei ao final da fila, apático. Que escolha eu tinha? A obrigação de comparecer me arrastara até ali, então não podia fazer nada a não ser ir até o final daquilo. Me sentei num banco ao fundo, bem atrás de uma pilastra de forma que não era possível ver a cerimônia. O padre subiu no altar e esperou alguns instantes enquanto as pessoas se acomodavam. Um casal de retardatários sentou no mesmo banco que eu, me fazendo sentir ainda mais só.

A cerimonia começou com uma música clássica que já tinha tocado em algum filme. Não sei mais de que filme, mas me lembro de me levantar, cheio de preguiça, pra ver os padrinhos e madrinhas atravessar a nave naquele passo incerto, quase um trote, tentando não parecer nem muito rápidos e nem muito lentos. Depois do quarto ou quinto casal, a igreja caiu em um silêncio reverente enquanto eu segurava um espirro que me fustigava a ponta do nariz. A clássica marcha nupcial pareceu tirar o fôlego de todos os presentes. Olhei pro noivo, empertigado ao lado do padre e dos padrinhos e não consegui deixar de comparar a música a marcha fúnebre.

A noiva fez sua entrada. Diferente do noivo, que me pareceu nervoso, ela estava triunfante. Tinha toda a atenção da igreja sobre si. Consegui ver nos olhos dela que saboreava a inveja de cada um dos bem vestidos do recinto. Andou com elegância e lentidão, as costas eretas, o véu cascateando branco pelas costas, o vestido se arrastando pelo chão. Tinha o cabelo armado, mas não me peçam pra descrever isso. Simplesmente não o sei. Uma verdadeira encheção. Em frente ao altar, o pai da moça a entregou pro noivo, que brilhava com o suor na testa.

Finalmente a platéia teve permissão de se sentar. Sinal de que o padre estava prestes a desabar aquele sermão caprichado sobre a vida, o universo e tudo o mais. Senti o maço de cigarros pesando dentro do meu bolso, quase como se chamasse meu nome. Olhei para os lados e deslizei até o final do banco. Me levantei com suavidade e saí por uma das portas laterais.

O ar da noite bateu contra o meu rosto. Era meados de Junho e fazia aquele frio de céu limpo, sem nuvens. Não reparei na Lua. Talvez já tivesse desaparecido por trás dos prédios. Mas, mesmo que houvesse Lua, aquela era uma noite pras estrelas. Abri o maço e tirei um cigarro. Deixei-o na boca e continuei olhando pro céu enquanto pegava o isqueiro.

Tem uma coisa no céu de inverno que acorda no meu peito uma solidão ferrada. Talvez seja o frio, a distância das estrelas ou ainda a amplitude do céu, que me faz também sentir pequeno e afastado de tudo. Ou talvez seja a própria solidão se agitando dentro de mim, pedindo pra sair. Não sei mesmo. 

De qualquer forma, nessas horas, o cigarro me faz companhia. A bem da verdade fumar é uma desculpa pra ficar sozinho e curtir um bocado de solidão. Fiquei lá, olhando as estrelas e deixando a fumaça espiralar para o alto antes de ser levada pelo vento. Me perdi em devaneios mesmo e não lembro sobre o que pensei. Quando dei por mim foi num sobressalto.

- Seu cigarro é diferente... Tem um cheiro gostoso.

De cara me senti um pouco invadido. Era como se alguém entrasse bem no meio dos meus pensamentos sem pedir licença. Quando me virei e vi quem tinha dito aquilo, deixei essa bobeira de lado e decidi que não me importava que ela invadisse a minha vida. Tinha os cabelos negros, compridos e soltos. Os olhos eram igualmente escuros: uma cor de breu. O nariz fino e alongado era adornado com uma argola discreta de prata. O salto não era muito alto e o vestido vermelho, simples, combinava com o batom vinho escuro.

- Ah! É sim...

Eu sempre fui tímido. Especialmente com mulheres. Mais ainda com mulheres atraentes. Pior ainda com mulheres despojadas. Ela andou na minha direção, um sorriso curto na boca de lábios finos e bem desenhados. Não cumprimentou nem se apresentou.

- Qual é esse? Black?
- Não, não. Esse chama MacBeth.
- É de quê? Chocolate?
- Neutro. Quer um? - Tirei o maço e ofereci.
- Não. Não vou fumar um inteiro. Só quero experimentar um pouco.

Ela me estendeu dois dedos, pedindo que eu colocasse o cigarro entre eles e, assim que o fiz, levou-o à boca e tragou, avivando a brasa por um instante. Os olhos se estreitaram e tragou de novo. Me devolveu o cigarro com a marca de batom no filtro.

- É gostoso. Suave, né?
- Só parece suave por causa do gosto, mas é um pouco forte.
- Ah...

Hesitei antes de levar o cigarro à boca. A marca daqueles lábios tava impressa ali, no tubinho de tabaco que eu guardava na mão. Quando um vento soprou e trouxe o perfume dela na minha direção levantei o bendito e saboreei devagar a fumaça quente e espessa. A mulher sorriu do meu prazer evidente. Será que tinha entendido que era o batom dela ali, onde eu punha a boca, que me fazia provar com mais intensidade o tal cigarro?

- Você faz uma cara boa quando fuma.
- Eu relaxo com cigarro.
- Deixa eu experimentar mais um trago.

Passei o cigarro de volta, feliz pela companhia. Tem quem não goste de compartilhar cigarro. Às vezes até concordo com isso, mas nem sempre. Algumas vezes é bom dividir o cigarro, como é bom dividir a cerveja. Pelo menos nesse caso era. Dessa vez ela ficou com o cigarro por um instante breve na boca e me devolveu antes ainda de soprar a fumaça pro vento.

-Deixa eu voltar lá. Prazer, viu? E obrigada pelo cigarro!
-Que isso! De nada. Prazer foi meu...
 
Terminei de fumar sob um vento bem frio, me xingando por não ter nem perguntado o nome da moça. Joguei a brasa fria na direção da rua e voltei pra dentro da igreja, de volta para o lugar atrás da pilastra.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Destino

O seguinte conto é o segundo de uma série de narrativas descontínuas. A primeira parte se chama A Batalha do Cavaleiro Branco e foi publicada aqui.

A noite se espalhava para além do horizonte negro, estrelas cintilantes cobrindo o céu sem lua. Do alto da montanha era possível esticar a vista para formas misteriosas, mesmo sob a escuridão. O homem que se sentava diante da fogueira olhava fixamente para o Sul, perdido em algum pensamento ou memória enquanto a dança das chamas faziam sombras estranhas em seu rosto, que lhe conferiam expressões doídas de arrependimento.

O vento incessante parecia gemer, como se fosse o grito de sofrimento dos mortos em um campo de batalha ainda encharcado de sangue. Do outro lado da fogueira, uma sombra encapuzada se protegia do frio e um par de olhos escuros faiscavam com a parca luminosidade. Havia algo naquela figura envolta em mantos que dava a impressão de reverência, como se a própria noite se curvasse à sua presença.

-Por que busca Destino? - A voz não passou de um sussurro que, de alguma forma, atravessou o vento gélido, e soou como o crocitar de um corvo. Um corvo muito velho. O homem, que já havia visto morte e carnificina, enterrara amigos e inimigos e vivido pela proeza do braço da espada, sentiu um frio percorrer-lhe a espinha e sabia que não era por causa do vento.
- Eu busco mudar o destino. - Respondeu o homem, monótono. Voltou o olhar para a figura sombria, as chamas dando aparência endurecida para o rosto.
- É o que todos querem. - Replicou o grasnar de corvo com desprezo e a figura se aproximou da fogueira, revelando, ao contrário da impressão de velhice e decreptidude, um rosto jovem de uma mulher atraente, de longos cabelos negros olhos verdes que nunca piscavam.

- Eu busco tomar as rédeas do meu próprio destino. - Insitiu o homem. A mulher ficou em silêncio por alguns instantes, observando aquele que ousara proferir palavras tão corajosas. Imaginou se ele tinha idéia do significado daquela declaração.

- Qual o seu nome?
- Hutlhor.
- Hulthor apenas? Nenhum título, terra-natal ou família?
- Nenhum que eu reivindique agora. - Respondeu resoluto, sustentando o olhar da mulher. Agora que via o rosto, a voz não parecia mais o grasnar de um corvo, mas um tom macio e ao mesmo tempo rouco. O fogo deu a impressão de que a mulher sorria discretamente com o canto dos lábios, um sorriso indecifrável, secreto, mas quando ela se mexeu para apanhar algo de dentro do manto poído, o jogo de sombras varreu qualquer vislumbre dos lábios.

Hulthor se levantou, como se desafiasse o vento, a fogueira e a própria noite. E dessa vez sua voz trovejou com determinação beligerante, os olhos cinzentos se tornaram o reflexo de uma tempestade.

- Se o destino é rígido e imutável como dizem os sábios da Ordem Branca, que me ensinou e treinou para a cavalaria, então um homem pode lançar-lhe os punhos. - O olhar de Hulthor novamente se voltou para o Sul e a mulher o observava com atenção. - E eu seria capaz de fazer isso. Agarraria o destino pelos cabelos e o golpearia no rosto de pedra até que fendesse. Se o destino não é capaz de se dobrar, então eu o despedaçarei.

A mulher inclinou o tronco para frente, interessada no guerreiro que se levantava para bradar à noite. Sua mão direita saiu de dentro do manto e se estendeu diante do fogo segurando uma pequena bolsa de couro que não era maior do que um punho. E com a voz de donzela, proferiu com solenidade.

- Muito bem, Hulthor, sem títulos, terra natal ou família. Hulthor, que abandonou a Ordem Branca. Hulthor sem destino. Vou lhe revelar os segredos que os sábios cegos não compreendem. Vou lhe contar sobre Destino.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Maço Vazio

no cinza da manhã
queimo o sono
e espalho as cinzas
                         
deixo a memória no ponto
e de ônibus não me deixo sentar
assentar poeira de cigarro:
acendo outro.
E se o resto do mundo seguiu
em frente, eu me esqueci aqui

naquele dia

em que eu gritei
e você se

foi o pior.

Se depois a marugada não passa
a culpa é sua
da insônia

da sobriedade
que eu me arrependo.

da falta que me faz

do whiskey
da companhia

dos lobos
varridos pra fora de casa

daqueles uivos
dois
o meu e o seu,
lembra?

E se rio
é de amargor

e do seu choro

reviro o lixo
e dou aos cães
que são

meus sentimentos
                            nada
vazios.

          Por ti

alimento-me

de ti, a lembrança
de mim, a sentença

ao meu querer:
um verso reto,
     chato
e mal feito

mas não disfarço.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Sonho Trapaceiro

O cão uiva pra Lua
o brilho se cala.

Corvo olha pro
    olho  vivo
e ri do brilho
prateado
         na rua

lá fora
o coyote sem dono
               em pesadelo
                           
                    acordado
sonha em ser matilha
e dorme
o sono do trapaceiro.

                 Gato vadio
de humor transgressor
atravessa a escuridão.
Revira o lixo e torce o nariz.

canta a penumbra
fervente
da noite ainda criança
              brinca e pula.
              Finge que vai.

Sombra
vem e passa.
dança na solidão da
             madrugada
                    errada.
Em feriado
            de dia sagrado,
                       profana.

No céu da Lua
dança obscura
em beleza fria
a moça nua

nos sonhos
a moça nua.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Ano Passado

disse que nunca mais ia chorar um amigo
 disse que nunca mais ia chorar um amor
                                                                 (perdido)
                                                                   (perdido)
 disse que nunca mais ia dançar
 disse que nunca mais ia ao cinema
                                                  (sozinha)
                                                         (sozinha)

 disse que nunca mais ia escolher o caminho
 disse que nunca mais ia querer o cara
                                                                       (errado)
                                                             (errado)

 disse que nunca mais ia puxar briga
 disse que nunca mais ia beber natasha
                                                           (no bar)
                                                              (no bar)

 disse que nunca mais ia acordar
 disse que nunca mais ia se jogar
                                                     (nos braços de um estranho)
                                                    (nos braços de um estranho)

 disse que ia ser feliz, que ia fazer a lição de casa, que ia obedecer
 promessas pra esse ano
 o último
 o primeiro

 dançou um amor sozinha
 puxou briga no cinema
 chorou um caminho perdido
 bebeu natasha com um estranho
 se jogou nos braços de um amigo

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Carol

Acho que foi a primeira vez que perdi o fôlego sem levar um soco no estômago ou cair de costas no chão. Não sei explicar bem o que me roubou o ar. Talvez fossem aqueles olhos verdes ou os cachos dourados. Quem sabe, ainda, alguma outra força invisível e irresistível decretando que aquela menina, e nenhuma outra, ia tirar o meu fôlego.

Aos sete anos, temos idéias bem concretas a respeito das pessoas e de como o mundo funciona. Eu, por exemplo, sabia que o Brasil seria Tetra Campeão naquele ano de 1990, que o rosa era cor só de menina, meu irmão mais novo era um saco e só servia pra bucha de canhão e meu cachorro era um lobisomem disfarçado. Sem contar, é claro, que meninas eram a coisa mais besta do mundo inteiro. Elas eram meio fracotes, não gostavam de brincar de lutinha, preferiam jogar queimada a futebol e tinham medo de bodes e insetos.

Então como aquela menina, que tinha medo dos grilos verdes que eu pegava com a mão, podia me tirar o fôlego daquele jeito? Era uma coisa de doido. Eu sentia um troço no peito que parecia uma pontada e a barriga virava gelo toda vez que lembrava do verde dos olhos dela. Minha boca ficava seca e a garganta fechava toda vez que eu pensava naquele nome que era tão doce. Carol.

Logo o meu dia-a-dia mudou. De manhã, ao invés de assistir Caverna do Dragão e fazer os deveres, ficava lá parado. TV ligada, olhar num infinito perdido e aquele suspiro que até dói em quem vê. Na escola é claro que a falta dos deveres foi notada, bem como aquele olhar de idiota quando os olhos ficam meio caídos, fechados e abertos ao mesmo tempo, olhando pro sonho e pra realidade. Eu não conseguia esconder dos outros a mudança.

Foi aí que começaram a tentar descobrir o que estava acontecendo. A professora perguntava se tinha acontecido alguma coisa em casa e a família perguntava a mesma coisa da escola. E todos ficavam: “Mas Hugo! Você não está bem! Está triste? Brigou com alguém?” Só que era difícil explicar... Como dizer que aquilo não era tristeza? Que todo momento era solitário só porque eu sabia, agora, que a Carol existia e a minha mão estava longe da dela? E mesmo que estivessem bem perto meu coração ia pular do meu peito, atravessar a minha garganta e cair no chão feito um peixe louco.

“Não gente. Eu tô bem.”
“Hugo Morelo... Não enrola!”
“Ah... É que tem uma menina. Acho que tô gostando dela.”

Pronto. Comoção familiar. Todo mundo agora sabia como lidar com a situação, tinha opinião, experiência, caso pra contar. Coisa mais sufocante, medonha! Tinha medo daquela atenção. Só queria ficar lá no meu canto com meus suspiros, mas não deixaram. Queriam me ajudar a resolver a paixonite a meu favor.

“Ela sabe que você namora ela?”
“Mas eu não namoro ela...”
“Você já falou pra ela que gosta... Hugo, porque ficou branco de repente?”
“Ao menos vocês brincam? Conversam?”
“Não... Ela senta do outro lado da sala.”
“Devia ir lá falar com ela então. Chama ela pra conversar.”
“Ele devia era roubar um beijo!”
“Gente! E se comprássemos roupas nova pra ele?”
“Já pensou em impressionar ela? Assim, faz um gol e fala que foi pra ela!”

Mas eu não era bom em futebol. Também não sabia desenhar, nem fazer origami. Eu só era bom em pique-esconde e em inventar histórias. Então resolveram lá que a melhor abordagem era eu dar um chocolate e dizer que gostava dela. E quer saber? Não me pareceu nada mal. Podia mesmo dar certo.

No dia seguinte, a hora da verdade. Me arranjaram um prestígio, pentearam meu cabelo e me deram boa sorte. Na escola tudo ficou estranhamente lento. O plano era chamar ela pra lanchar comigo no recreio, mas fingi que queria brincar e deixei o chocolate escondido no fundo da lancheira. Despenteei os cabelos de tanto correr e gritar e voltei pra sala fingindo me lamentar do intervalo curto e que não deu tempo de comer junto com ela. Durante a aula, me vinha um nó entre a garganta e o peito toda vez que virava a cabeça em direção à Carol. Tinha medo que ela me descobrisse ali, à espreita. Mas jurei, em nome de toda a coragem que pude encontrar, que não ia deixá-la escapar no fim da aula.

Quando o sinal bateu eu achei que meu coração podia ser ouvido lá na China. Enrolei enquanto todos saíam e ela ficou lá arrumando o material, enquanto a sala ia esvaziando e só restava nós dois. Os ouvidos latejavam junto com o peito. Reuni tudo o que tinha em mim e, quando ela virava o rosto para a mochila, deixei lá a barra de prestígio. Na carteira dela. Não falei nada e saí antes que ela pudesse ver o chocolate dando sopa. A alma doendo, sem saber se arrependia ou aliviava.

Em casa não deixaram que eu fugisse. Mal cheguei e perguntaram, ansiosos:

“E aí? Conversou com ela? O que ela disse?”
“Nada...”
“Uai, nada? E o chocolate?”
“Comi.”

sábado, 8 de janeiro de 2011

Verso de Bêbado

desisti da cavalaria

daquele beijo na chuva
da viagem pra lua
de acreditar em destino
de revolução comunista
de procurar por Isolda
de escrever poesia

desisto.

Resta o asfalto.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

A Batalha do Cavaleiro Branco

O rumor da batalha é como trovão interminável. É o clamor de mil gritos vitoriosos e derrotados. Som do aço devorando vidas humanas e dos campos encharcados de sangue e vísceras. O chapinhar de pés cobertos de couro e metal pisoteando os mortos e caídos. Alegria, raiva e desespero.

Na vanguarda, o herói. Altivo na pesada armadura de aço branco, o elmo prateado e a capa azul. O esqueleto de madeira de um escudo partido pendia no braço esquerdo, enquanto o braço da espada estava sujo de sangue até o cotovelo, a espada vermelha brilhante. Incólume, avançava como um flagelo nas linhas inimigas, estocando e cortando. Mal se preocupava em aparar os golpes, pois poucas armas eram capazes de trespassar a armadura de um Cavaleiro Branco. Fazia da matança uma arte, tamanha graça dos movimentos da lâmina que quase parecia invisível. Um herói não faz um exército, porém, e as linhas inimigas, embora não pudessem resistir ao valoroso Cavaleiro, eram ferozes e não desistiam. Enquanto o herói matava, os soldados comuns morriam sob as lanças e machados cruéis.

Incansável, Eric, o Branco, procurava alcançar o estandarte inimigo. Se matasse o general sob a bandeira escarlate, restaria pouca coragem nos maliciosos subalternos, que fugiriam ou se renderiam tão logo soasse o clarim da vitória. Mas era um caminho longo e cheio de escudos o que se estendia entre o herói e seu inimigo e o herói, vendo o desespero de seus aliados, gritava para chamar atenção a si. Lançava desafios e insultos o mais alto que pudesse, para atrair sua presa. Eric, da espada prateada, via suas tropas se desfazerem diante do inimigo e, fosse um homem de coragem inferior, teria se rendido ao desespero, pedindo clemência para si mesmo e para seus homens.

Quando se viu a poucos metros do estandarte, lançou a voz em triunfo e os soldados que o acompanhavam pensaram que a maré da batalha havia virado, enquanto os vis homens que se opunham a eles todos pararam de atacar, atordoados. Ao lado da bandeira vermelha, o general inimigo observava a batalha de cima de um garanhão negro. Esperou que Eric ainda avançasse mais alguns passos e apeou para responder ao desafio. Ao redor as lutas cessaram, guerreiros de ambos os lados observando a cena que se desenrolava entre os dois Senhores.

O general inimigo usava uma pesada malha de aço, mas afora isso não carregava qualquer outra proteção, nenhum escudo ou elmo. O rosto descoberto se escondia por trás de uma barba escura, que ressaltava os maxilares tensionados. Os olhos eram cinzentos como uma tempestade e os cabelos revoltos. Podia ser confundido com qualquer guerreiro comum, não fosse a postura imperiosa que adotava e a espada brilhante na mão direita, de cabo de couro negro, guarda curta e a lâmina coberta de escritas antigas e esquecidas. Havia em torno daquela arma uma aura de opressão que poderia ter intimidado homens mais fracos do que Eric.

Os dois se estudaram sem se mover ou falar. Um silêncio recaiu sobre os que assistiam e esses quase se esqueceram do trovejar da batalha ao redor. Muito lentamente e quase relutante Eric removeu o elmo, revelando os cabelos claros e suados, o queixo afinado e bem barbeado e os olhos brilhantes em fúria. Quando falou, sua voz acordou os homens para a situação, tamanha era sua potência.
- Traidor! Covarde! Perjuro! Como ousa levantar forças contra o rei? Como ousa quebrar seus juramentos de fidelidade à casa real e à Ordem?
O general apenas fitou o rival com os olhos tempestuosos e não disse uma palavra sequer. Eric bradou mais uma vez, incontido.
- Como ousa Hulthor? Logo você, a quem chamei de irmão?
Por um momento, todos acreditaram que Hulthor não responderia Eric, fosse
por raiva ou por vergonha. Mas quando sua voz foi ouvida no campo de batalha, estava calma, embora parecesse que o general fizesse grande esforço para manter-se assim.
- Eu esperei por você, Eric. Sabia que viria em direção ao meu estandarte. Sabia que estaria furioso e que nenhum dos meus homens seria capaz de lhe ferir.
- Nenhum de seus homens pode me ferir e nem você, Hulthor. Sou o Cavaleiro Branco, agora. Sou o porta estandarte da Ordem e o próprio grão-mestre me incumbiu da tarefa de matá-lo. Renda-se e disponha de suas armas ou então sofra a minha justa ira.
O general pareceu achar aquelas bravatas divertidas e, por um instante quase sorriu e seus olhos se anuviaram. Mas o instante logo passou e o ar ao redor dos dois comandantes pareceu mais denso.
- Não sou obrigado a responder a nenhum desafio, Eric, o Branco. Mas digo-lhe isto: enquanto a minha lâmina estiver nua, ela ceifará vidas. Mesmo que eu quisesse sua rendição, eu não poderia aceitá-la. A batalha pende para o meu lado e, hoje, nessa tarde de verão, você morrerá pelas mãos daquele que já chamou de irmão.

Eric conteve sua reação diante da previsão temerária e se preparou para a batalha. Havia oferecido a chance de rendição a Hulthor, que já fora um Cavaleiro da Ordem e sua oferta havia sido recusada. Os dois começaram a se circundar, espadas em guarda. Agora, Eric havia largado os restos do escudo partido e segurava sua lâmina com as duas mãos. Quem visse a cena, acharia que era Hulthor o desafiador, porque ele parecia o mais pobre de armamentos, exceto pela espada. Talvez um observador ao longe tenha pensado que um soldado raso havia desafiado um grande comandante, em busca de fama e riqueza.

Hulthor vestia a malha metálica, de anéis de aço entrelaçados, que formavam uma túnica grossa que ia até os joelhos. Não tinha adereços, nem jóias. Enquanto Eric, embora estivesse sujo da batalha, vestia uma rica armadura de placas ajustadas ao seu corpo e enfeitadas com detalhes em ouro.

Era de se esperar que o desafiante atacasse primeiro, mas foi Hulthor que investiu violentamente. Eric mal teve tempo de aparar o golpe e Hulthor já lançava cuteladas poderosas que lascaram a espada do Cavaleiro. Buscando virar o ritmo da luta, Eric procurou contra-atacar, buscando uma brecha na guarda de seu oponente, mas Hulthor foi mais rápido, dessa vez trincando profundamente a espada do Cavaleiro. Os soldados que assistiam, boquiabertos, piscaram os olhos diante da demonstração de força e habilidade e finalmente voltaram a ouvir a ensurdecedora violência que se desenrolava por todo o campo.

Eric mais uma vez tentou contra-atacar Hulthor e mais uma vez foi repelido por sua espada, que estocava e cortava em fúria assustadora. Nenhum dos golpes do general eram fintas ou serviam para desarmar ou abrir a guarda do oponente, mas todos miravam em pontos vitais protegidos pela armadura branca e Eric os aparava e desviava com igual violência. O retinir do aço se tornou rítmico e cada vez mais rápido, mas cada passo que era obrigado recuar, Eric investia e recuperava o terreno. Apesar da agressividade de um, a luta parecia equilibrada.

O impasse durou alguns minutos de luta intensa, nenhum dos dois demonstrando cansaço. Parecia que nenhum dos dois conseguia penetrar a defesa do outro. Até que Hulthor, que estivera mirando no peito, ombros e rosto, procurando trespassar as frestas da armadura, recuou um passo e Eric, com um grito de vitória investiu na abertura da guarda do oponente e Hulthor procurou acertar a guarda do braço de seu oponente, que recuava do golpe. Por três vezes a cena se repetiu e por três vezes Hulthor procurou ferir os braços de Eric, que conseguia se defender. Até que, na quarta vez, Hulthor recuou e avançou com incrível velocidade nos pés e estocou não contra os braços, mas contra os joelhos de Eric, que tinha a espada segura no alto, em meio a um ataque. Outra espada teria resvalado na placa do joelho, mas a lâmina inscrita de Hulthor penetrou com facilidade e fez Eric vacilar e se ajoelhar. O vitorioso encarou seu surpreso oponente, os olhos arregalados, apoiado sobre a perna que ainda estava intacta.

Eric ainda tentou revidar, mas sua espada, trincada e lascada, foi tirada de sua mão com facilidade e caiu no campo ensangüentado. Aqueles que serviam à Ordem, entre soldados comuns e cavaleiros, prenderam a respiração por um instante e ficaram paralisados, enquanto os soldados de Hulthor comemoravam batendo suas armas contra os escudos. A lâmina trespassou o peito do Cavaleiro prostrado sem um segundo de hesitação. Os olhos ainda incrédulos, o rosto traindo a confusão.

Da batalha, poucos derrotados sobreviveram e esses apenas conseguiram fugir porque um dos capitães conseguiu reunir uma última força e resistir enquanto os demais fugiram. O exército de Hulthor não fez prisioneiros nem tomou escravos, lutando até que o último inimigo estivesse morto. Quando algum tentava se render, mandavam que pegasse a espada mais uma vez e lutasse e, quando esses insistiam em não reagir, matavam-nos sem piedade. O próprio Hulthor lançou-se à vanguarda tão logo Eric estava morto e o Cavaleiro Branco foi pisoteado pelos seus inimigos, enquanto aqueles que tentavam proteger seu corpo eram chacinados.

Quando a batalha havia terminado e o exército espoliava os mortos, Hulthor parou no alto de uma pequena colina e observou o morticínio que havia causado. Ouvia o gargalhar de homens rudes. Estava sozinho e o pôr do sol tornava tudo vermelho vivo, os soldados se confundindo com o chão empapado de sangue. Viu um dos homens subir a colina montando, mas não mostrou reação.
- Senhor.
Hulthor não respondeu e o homem apeou e ficou em silêncio ao lado do comandante, segurando as rédeas de seu cavalo. Gritos vindos de onde estava a retaguarda de Eric quando a batalha começara revelaram que os homens descobriram os suprimentos inimigos e já estavam se refestelando em cerveja, vinho e carne seca.
- Alguém deveria ir até lá, antes que acabem com toda a comida
- Senhor?
O outro homem se surpreendera com as palavras de Hulthor. Geralmente tão lacônico, só falava com seus capitães mais confiáveis e apenas para discutir e apresentar táticas de guerra.
- Os suprimentos do inimigo, Guthred. Não podemos desperdiçar tudo como se estivéssemos em uma taverna.
Guthred piscou, mais uma vez surpreso. Hulthor sempre se afastava dos homens após as batalhas e o jovem sargento às vezes ficava por perto, em silêncio. Hulthor, que não queria companhia, raramente falava, mas deixava que o rapaz ficasse ali, desde que não incomodasse ou fizesse barulho.
- Eu... Vou até lá, senhor. Vou... Chamar o capitão Pendar, senhor. Ele pode...
- Você lutou bem hoje, Guthred. Está ferido?
O jovem Guthred achou que não havia entendido muito bem o que o comandante dissera e se confundiu.
- Está ferido, Guthred?
-Não, senhor. Recebi um corte leve que trespassou a minha cota de malha. Fora isso estou bem, senhor.
Os olhos cinzentos que lembravam nuvens de chuva sobre o céu azul perscrutaram o rapaz e viram a espada machada de sangue pendurada no cinto por um tendão preto e velho. Repetiu o cumprimento, o que fez as sobrancelhas de Guthred arquearem para cima.
-Lutou bem, rapaz. Vi você no campo e estava na linha de frente. Seu capitão morreu, não morreu?
- Sim, senhor. O capitão Wulfgar foi morto por um Cavaleiro da Ordem. Tentei chegar até ele para me vingar, mas a maré da batalha o levou para longe.
- Agora você é capitão de sua companhia, rapaz.
E Hulthor se virou, sem dizer uma palavra. Deixando um atônito Guthred na Colina, sozinha com seu orgulho.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Capa e Espada

Tenho estado inconstante no último mês. A produção de textos tem sido complicada, mal mal tenho conseguido começar ou, quando começo, a coisa sai "torta", meio errada.

Algumas idéias antigas, porém, têm sido bem receptivas a mim ultimamente. O que quer dizer, na verdade, que tenho sentido o papel e o texto mais fáceis de prosseguir nesses casos. A idéia geral é retomar o tema de capa e espada, mas ao invés de repetir o erro de uma história contínua e longa, vou escrever mini contos. Não muito diferentes de "Sétimo Filho Vivo" que eu coloquei aqui no blog em Abril de 2009.

Os mini contos vão ter relação entre si, seja por cenário, por personagens reincidentes ou por trama mesmo. Mas o que eu quero fazer não é uma narrativa retilínea cronologicamente, mas várias narrativas que se ligam, deixando buracos na cronologia e permitindo ao leitor fazer as ligações, imaginar o que acontece entre os textos.

Alguns talvez sejam mais longos do que o que eu costumo postar por aqui. Então talvez seja cansativo colocar tudo de uma vez. Veremos o que acontece, de qualquer forma e como as coisas serão recebidas. O formato de narrativa, descontínua, vai ser interessante de se ler e, ao mesmo tempo, vai me deixar aberto para postar outras coisas quando der na telha e sem correr o risco de furar compromissos que eu mesmo firmo.

Espero que se divirtam.